A maior conferência de ciência, tecnologia e inovação do Brasil, a 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, concluiu três dias de intensas discussões com a participação de mais de 30 mil pessoas. O evento, que não ocorria há 14 anos, foi um marco na definição de estratégias para enfrentar os principais desafios do país e do mundo.
Construindo a Nova Estratégia Nacional de CT&I
A conferência teve um papel crucial na formulação da nova Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (Encti), que orientará o setor até 2030. A ministra de Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, destacou a importância do evento: “Os desafios são muitos. Agora precisamos tirar do papel o que foi discutido aqui. O trabalho está apenas começando. Nós estamos virando a página do negacionismo no Brasil”.
Desde dezembro de 2023, a 5CNCTI, de caráter consultivo, envolveu a população, garantindo que os diversos “Brasis” fossem ouvidos. A participação da população foi fundamental em todas as etapas, desde os eventos preparatórios até a fase nacional.
Leita também
Sérgio Rezende, secretário-geral da CNCTI, avaliou positivamente o evento: “Chegamos ao final da conferência e a avaliação é a melhor possível. Foram três dias intensos, nos temas debatidos, organização das sessões e participação. Reunimos a comunidade científica, acadêmica, industrial, trabalhadores e estudantes, com muito entusiasmo, pois estão vendo o resultado do trabalho pela ciência brasileira”.
Resultados e Próximos Passos
Nos próximos dez dias, um documento inicial compilando as discussões será apresentado, utilizando inteligência artificial para sua elaboração. Anderson Gomes, diretor do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) e secretário-adjunto da 5CNCTI, afirmou: “Temos um material muito rico desses três dias, que contou com participação ativa das pessoas. Todas as salas estavam cheias e foram levantadas questões de extrema relevância”.
A escuta da população continuará até o próximo domingo, de forma remota, por meio da Plataforma de Recomendações, permitindo que qualquer pessoa sugira políticas públicas. Sugestões também podem ser enviadas por e-mail.
Lançamento do Plano de Inteligência Artificial
O evento foi palco do lançamento do primeiro Plano Brasileiro de Inteligência Artificial pelo presidente Lula, prevendo investimentos de R$ 23 bilhões em quatro anos e a aquisição de um supercomputador. A conferência incluiu 54 sessões de debates, com temas como transição digital, mudanças climáticas, energia renovável, e financiamento à ciência.
A Importância do Ensino Superior
Um dos pontos altos foi a plenária “As universidades públicas no Brasil: presente e futuro”, que discutiu os avanços e desafios do ensino superior no país. Denise Carvalho, presidente da Capes, destacou que atualmente 23% dos brasileiros de 25 a 34 anos acessam as universidades, bem abaixo da média da OCDE de 47,2%. Ela enfatizou a necessidade de formar mais mestres e doutores para impulsionar o desenvolvimento do país.
Desafios e Necessidades do Ensino Superior
A pandemia de Covid-19, o negacionismo científico e o subfinanciamento à ciência comprometeram os avanços no setor. Denise Carvalho chamou a atenção para o crescimento dos cursos de graduação a distância, que representam 47% das matrículas, muitas vezes com qualidade questionável. Para resolver isso, o MEC está elaborando um novo marco regulatório para EAD.
Rodrigo Capaz, professor da UFRJ e diretor do CNPEM, reforçou a necessidade de ampliar o acesso ao ensino superior. Alfredo Gomes, reitor da UFPE, apontou que, apesar da recuperação de verbas, ainda há desafios financeiros significativos. Manuela Mirella, presidente da UNE, destacou vitórias recentes, como o reajuste das bolsas de pesquisa e a recomposição orçamentária.
O Papel do Estado na CT&I
Na plenária sobre “O Estado necessário ao desenvolvimento científico e tecnológico no Brasil”, houve consenso sobre a importância de uma colaboração eficaz entre diferentes esferas governamentais para fortalecer a inovação e a competitividade do Brasil no cenário global. Alexandre Colares, da AGU, enfatizou: “Precisamos de foco para chegar a um modelo de Estado de fato estratégico, parceiro e comprometido com a resolução dos problemas nacionais”.
Cristiana Mori, ministra interina de Gestão e Inovação em Serviços Públicos, desmistificou a ideia do estado mínimo, destacando a importância do Estado no desenvolvimento econômico e tecnológico.
Números da 5CNCTI
A conferência registrou 5.300 inscritos para participação presencial, 4.000 para participação online, e 21.000 visualizações no YouTube, totalizando mais de 30.300 participações. Foram realizadas 54 sessões de debates em três dias, com 9 agendas simultâneas por turno e 7 plenárias. Durante as etapas preparatórias, mais de 100 mil pessoas participaram de mais de 200 conferências em todo o Brasil.
Definindo Prioridades para o Futuro
Organizada pelo MCTI e pelo CGEE, a 5CNCTI teve como objetivo principal discutir com a sociedade as necessidades na área de CT&I e propor recomendações para a nova Estratégia Nacional de CT&I até 2030. O evento contou com patrocínios do Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e FINEP.
A 5CNCTI não só marcou o retorno da ciência ao centro das discussões no Brasil, mas também lançou as bases para um futuro mais inovador, sustentável e justo. A colaboração entre governo, sociedade civil, e comunidade científica será fundamental para enfrentar os desafios e aproveitar as oportunidades que se apresentam até 2030.