No mundo digital, uma batalha silenciosa tem se desenrolado entre as carnes à base de plantas e a indústria tradicional da carne. O cenário foi marcado quando a influenciadora de bem-estar Jacqueline Pypers, da Austrália, comparou, no ano passado, as carnes à base de plantas a alimentos para cachorros em sua conta no Instagram. O que aparentava ser uma mera opinião pessoal se encaixava em um padrão maior. Nas redes sociais, as críticas contra produtos como Beyond Meat e Impossible Burger têm se multiplicado, retratando-os como alternativas processadas e pouco saudáveis quando comparados à carne “verdadeira”.
Porém, uma análise mais profunda dessa narrativa revela uma ligação intrigante com campanhas anteriormente orquestradas por um jogador da indústria, Rick Berman, entre 2019 e 2020. A retórica que compara as carnes alternativas a comida de animais de estimação não é novidade; ela já circulava em jornais tradicionais, como anúncios e artigos de opinião.
À medida que as carnes à base de plantas ganhavam popularidade, a indústria da carne se via confrontando um triplo desafio: a evidência científica da relação entre carne e mudança climática, crescentes preocupações de saúde relacionadas ao consumo de carne e o surgimento de alternativas avançadas do ponto de vista científico. Entretanto, a indústria encontrou uma abordagem. Considerando que muitos indivíduos já se mostravam desconfiados em relação a aditivos químicos em alimentos, os defensores da carne direcionaram seus esforços para explorar a “fraqueza” das carnes veganas em relação à sua base científica.
A organização de Berman, conhecida como CCF, liderou esse movimento, lançando anúncios sugestivos como “Carne Falsa ou Ração para Cachorros?” em renomados jornais. Paralelamente, figuras como Frank Mitloehner, defensor da indústria da carne e acadêmico, estabeleceram o Centro CLEAR, aparentemente uma entidade destinada a aprimorar as estratégias de comunicação do setor de carne.
As táticas modernas de publicidade, aliadas à crescente preferência dos jovens americanos por dietas baseadas em plantas, têm gerado uma mudança de enfoque. Anúncios tradicionais têm perdido eficácia junto à geração atual, que busca cada vez mais informações nutricionais nas redes sociais. Pesquisas indicam que plataformas como o TikTok influenciam as escolhas alimentares dos adolescentes de hoje, conferindo aos influenciadores um papel crucial na formação dessas preferências. Jennifer Stojkovic, da Vegan Women Summit, chama a atenção para a emergência dos chamados ‘influenciadores carnívoros’ e para a disseminação de informações incorretas.
Percebendo essa mudança de panorama, Berman destacou a importância de atingir os consumidores mais jovens. Pouco depois, a Associação Nacional de Pecuaristas de Carne ressaltou o potencial de usar influenciadores das redes sociais para promover os benefícios do consumo de carne. À medida que esses influenciadores amplificam mensagens que questionam os méritos das carnes à base de plantas para a saúde, a narrativa ganha força.
A ironia se revela quando defensores da “alimentação limpa” percebem que, indiretamente, estão apoiando indústrias relacionadas a animais tratados com hormônios. Sara Aniano, especialista em desinformação online, destaca uma convergência notável: um sentimento crescente que enxerga os desvios da alimentação “natural” como uma ameaça, transformando os alimentos inovadores em peças do discurso político online.
Conforme a batalha de informações nas redes sociais se intensifica, a habilidade de discernir entre sentimentos autênticos e conteúdo manipulado se torna crucial para os consumidores enquanto fazem escolhas alimentares informadas.