Perspectivas inovadoras da Fundação Getúlio Vargas sobre poluição e agricultura

André Rocha
4 minutos de leitura

Em um recente fórum sobre mudanças climáticas, Daniel Vargas, renomado pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV), trouxe à tona argumentos surpreendentes que desafiam as noções comuns sobre as causas do aquecimento global e as estratégias eficazes para combatê-lo.

Durante o evento organizado pela Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação de Mato Grosso do Sul, Vargas apresentou uma visão crítica e inovadora sobre a contribuição de diferentes setores para as emissões de gases de efeito estufa (GEE).

O tema central da palestra de Daniel Vargas foi “Transição Verde: conversão do verde ao valor”, onde ele destacou quatro setores frequentemente rotulados como grandes poluidores pelo Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC): Agricultura, Pecuária, Transporte e Comércio. Esses setores são cruciais para o desenvolvimento dos países tropicais, e Vargas argumentou que as percepções atuais sobre eles são muitas vezes baseadas em mal-entendidos e falta de dados contextualizados.

Daniel Vargas desafiou a ideia de que a agricultura necessariamente leva à devastação florestal para expandir a área cultivável. Ele destacou que, ao contrário da Europa, onde a produtividade agrícola permanece estável, o Brasil tem visto aumentos significativos na produção sem expandir proporcionalmente as áreas cultivadas, graças à adoção de tecnologias sustentáveis.

O pesquisador também abordou a questão da atribuição do ônus da poluição no processo produtivo, apontando uma disparidade entre diferentes setores. Enquanto os países produtores de petróleo transferem a responsabilidade para os consumidores dos derivados, na agricultura, a conta recai sobre o país produtor. Essa “perversão” do sistema comercial, segundo Vargas, prejudica os países tropicais, que são grandes produtores de alimentos.

Um ponto particularmente intrigante foi a discussão sobre a pecuária e as emissões de metano. Vargas argumentou que, ao contrário da crença popular, o gado pode ter um impacto neutro em termos de GEE. Ele explicou que o metano produzido pelo gado é convertido em água e CO2, que é posteriormente absorvido pela vegetação, equilibrando o ciclo.

Outro mito desafiado por Daniel Vargas foi a suposta superioridade dos carros elétricos sobre os veículos flex. Ele explicou que, embora os carros elétricos não emitam poluentes diretamente, a energia que os alimenta muitas vezes vem de fontes poluentes, como usinas termelétricas a carvão. Em contraste, os carros flex no Brasil, que utilizam etanol e gasolina, podem ser até 30% menos poluentes devido à maior proporção de energia renovável usada no país.

Vargas enfatizou a necessidade de uma abordagem diplomática mais firme para reajustar o balanço de responsabilidades na emissão de GEEs e nas ações mitigadoras. Ele propôs a criação de métricas precisas para avaliar cada processo produtivo e alcançar um balanço correto de carbono, destacando o papel potencial do Brasil como líder nessa iniciativa.

Finalmente, Daniel Vargas destacou a posição do Brasil no cenário global de emissões de GEE. Apesar de ser o quinto maior país em território e a nona maior economia, o Brasil contribui com apenas 2,4% do total de emissões globais, uma parcela significativamente menor em comparação com países como China, Estados Unidos e Índia.

Este fórum e a apresentação de Daniel Vargas representam um momento crucial na discussão sobre mudanças climáticas, desafiando percepções estabelecidas e abrindo caminho para novas abordagens baseadas em dados e inovação no campo da sustentabilidade e do desenvolvimento.

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